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fev

Sinto muito, me perdoe; te amo e sou grata

A frase que dá título a este texto é dita frequentemente pelos praticantes de Ho’oponopono – expressão de origem havaiana que se tornou conhecida em todo o mundo e é utilizada como ferramenta para a cura e o perdão. O mantra, que significa arrependimento, remissão, amor e gratidão, me faz lembrar de Sabrina Bittencourt e de tantas outras mulheres que foram vítimas de violência e que pagaram um preço alto por isso.
Sabrina, que deu fim à própria vida neste final de semana, teve uma trajetória terrena cheia de desafios. Sentiu na pele o abuso do patriarcado religioso, quando foi violentada, dos quatro aos oito anos, por mórmons da igreja que frequentava com os pais. Depois na adolescência, por outros homens da mesma comunidade de fé. Ao fugir daquela sociedade, foi estuprada.
No Brasil, inúmeras são as notícias diárias de mulheres que se encontram em situação de abuso, violência ou são vítimas de feminicídio – crime de ódio baseado no gênero, amplamente definido como o assassinato de mulheres. Só no mês de janeiro deste ano, mais de 100 casos de feminicídio foram registrados em nosso País.
A verdade é que a mulher morre quando é violentada. Sabrina foi morta várias vezes antes de sua vida chegar ao fim, ainda assim, encontrou forças para lutar por tantas outras mulheres em situação de violência no mundo. Ajudou a dar voz às vítimas de do médico Roger Abdelmassih e encampou a luta das violentadas pelo guru espiritual Sri Prem Baba e pelo médium João de Deus.
Mulheres que lutam contra a violência de gênero carregam o peso de ver a morte de perto inúmeras vezes, mesmo antes da vida chegar ao fim. É doloroso. A dor é maior quando se deparam com o descaso do governo contra as minorias e quando veem a masculinidade tóxica querendo se impor na meio à luta pela igualdade e justiça.
Contudo, mulheres que lutam contra a violência de gênero não conseguem abrir mão desta batalha. Elas lutam pela vida. Foi assim com Sabrina e é com tantas outras. A dor parece servir como impulso, dando ainda mais garra para quem não vê a desistência como opção.
Sabrina fez a sua parte, até onde pode. Lutar contra a morte quando se já está morta, não é para qualquer um. Sua história me lembra a da deusa nórdica Hella, que tinha um lado belo e outro em decomposição, que não era boa e nem má. Era simplesmente justa. Com aparência de uma mulher bonita e saudável, Sabrina não era perfeita. Carregava as consequências das dores e traumas que viveu, e lutava ao lado de tantas outras mulheres por justiça.
Sentimos muito por Sabrina e por tantas outras vítimas de violência de gênero. Pedimos que nos perdoe por não termos feito mais por vocês, especialmente nós, que aprendemos com o cristianismo que é mandamento amar ao próximo como a nós mesmos. Agradecemos à sua luta e prometemos que faremos o que tiver ao nosso alcance para dar fim à violência de gênero.

* O texto foi escrito por Flávia Souza, jornalista, CEO da Spiraal Comunicação Inteligente e gestora da Ong Hella, entidade que luta pelo combate a violência contra mulher




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